domingo, 8 de agosto de 2010

EM PLENA DESORDEM



Tem dias que acordo meio insana, tem dias que eu acordo meio má.
Tem dias em que eu prefiro ouvir sussurros, mas tem dias em que eu prefiro gritar.
Tem dias em que eu quero a brisa leve, o cheiro do mar... Mas também tem dias em que tudo o que eu mais queria era um lugar pequeno com bastante barulho e um canto só pra mim, para que assim ninguém ouvisse os gritos desaforados que vinham da minha mente.
Hoje acordei sentindo que nada estava no lugar, senti como se eu estivesse deslocada. Olhei ao meu redor e vi roupas espalhadas, os brincos sem os pares e percebi que não estava em casa.
Peguei minha jaqueta, lavei os olhos e trilhei o caminho de volta. Quando abri a porta da minha suposta casa, também encontrei tudo fora do lugar. A cama desfeita, o armário um caos, o banheiro então, nem se fale.
Prendi meu cabelo,guardei os brincos e comecei pela cama, depois pelo armário, o banheiro eu deixei para depois, já era hora do almoço.
Sentei-me a mesa, tentei não reparar em nada,mas algo me tirou a atenção.
Foi ai então que eu senti uma revolta súbita, senti como se todos estivessem conspirando contra mim, quando me deparei com a mesa desfeita os pratos desordenados e os copos que ainda permaneciam no armário.
Deixei para almoçar em outro momento. Deitei-me na cama, e não parei um segundo sequer de mencionar a mim o que estava fora do lugar. Em meio a uma lista interminável, percebi que estava citando repetitivamente o meu próprio nome.
Percebi que quem estava no local errado era eu, e não o porta retrato que há um ano sempre esteve ali, o urso que de tão imóvel já faz parte de uma cena constante.
Percebi que não bastava eu dobrar as roupas ou então organizar os pratos se eu não organizasse a mim.
Levantei-me, tomei um banho desorganizado, vesti minha blusa cinza, a bota marrom e fui tentar me localizar. Fui tentar me por no lugar, encontrar o eixo. Tudo em vão. Não só dei voltas e voltas em torno do mesmo eixo, como esqueci o caminho pra voltar.
Esqueci o caminho para encontrar a porta. Então comecei a procurar uma saída, mas me deparei com várias. Entre todas aquelas portas,encontrei uma fresta, a única porta que estava aberta.
Mais curiosa do que com medo, pus a mão na maçaneta. Parei para olhar o chão,pensar se deveria entrar com o pé direito, afinal um pouco de superstição não faz mal a ninguém. Então o fiz assim. Entrei com os olhos automaticamente fechados. Depois de tantas tentativas frustradas de olhar, tomei impulso e abri os olhos.
Não havia nada, em nenhuma daquelas salas eu encontrei sequer um grão de areia, um vestígio de que alguém também já havia vivenciado aquilo,passado por ali. Não havia ninguém que pudesse me dizer o que achou do clima daqueles lugares, não havia ninguém que poderia me contar que atrás de todas aquelas paredes haviam pessoas que conseguiram abrir uma fresta,não havia ninguém para me dizer que encontrou a saída. Havia apenas eu,dentro de toda minha complexidade,havia apenas eu para dar meia volta e seguir viagem.
Até que ouvi vozes, que soavam distantes de mim e um cutucão. Então, mesmo sonolenta, me dei conta de que eu estava sim em um lugar com bastante barulho e um canto só pra mim. Dei me conta de que eu estava era dentro de mim mesma e com uma imensa vontade de que todos ouvisse os gritos desesperados de minha mente que ainda não havia encontrado a saída.
Os gritos desesperados e sem nenhum pudor dizendo que eu queria mesmo gritar,dizendo que eu queria mesmo era ser ouvida.
Mas garanto a você, acredito que isso vá demorar.

M PANDOLFI.

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